Luto - o que é e o que faço?
- amargaridablog
- 5 de nov. de 2024
- 5 min de leitura
Creio que poderia dar um nome a esta nova série em que trago uma visão mais leve sobre o luto - que de leve não tem nada. Contudo, acredito que não posso continuar sem primeiro explanar o mais essencial acerca deste tema.
Poderão ser respostas a perguntas simples, mas que levarão a passos prácticos. Pois nesta vida tudo se faz num passo de cada vez, ainda que com algumas pausas pelo caminho.
O meu objectivo é tornar o tema mais palpável, mas não em tom de acrescentar mais dor. Acredito que se deva falar do luto na sua totalidade e apresentar possibilidades de como vivê-lo ou caminhar ao lado de alguém enlutado.
Afinal, o que é o luto?
O luto é uma reação emocional causada pela dor da perda, que pode diferir de pessoa para pessoa e manifestar-se de formas diferentes - ainda que tenhas as suas fases (podes conhecê-las aqui).
No fundo, trata-se do processo de lidar com as emoções despertadas pela perda e cuja vivência ou superação não são lineares. Ou seja, existem os seus altos e baixos, as suas recaídas emocionais, e tudo conforme o contexto e a capacidade que a pessoa tem de lidar com o episódio.
Conhecemos o luto mais associado à morte de alguém, mas também se considera luto o processo vivido por quem acaba de perder um emprego, bens materiais, um relacionamento, um animal de estimação, ou, até mesmo, a realização de um sonho.
Por isso, preciso ressaltar que todo o meu foco está direcionado para quem perdeu uma pessoa querida e para quem está perto de alguém em processo de luto.
Perdi alguém muito amado, e agora?
Em primeiro lugar, quero dizer-te que estou contigo. A dor de perder alguém que nos é muito querido esmaga-nos de uma forma que não existe maneira alguma de explicar como nos maltrata por dentro.
E, mesmo que não haja fórmulas mágicas, quero te apresentar alguns passos que te podem aliviar um pouco mais esse fardo tão pesado.
Não reprimas ou ignores as tuas emoções
Por isso, quero te dizer que acolher todas as tuas emoções é um grande passo de valentia para iniciar o processo.
Num dia de cada vez, vais conseguir observar que a tristeza parece tornar-se uma companheira diária; que vão existir ataques de raiva e irritabilidade que te vão trazer pensamentos como: “eu não sou assim, então por que estou a agir desta forma?”.
Assim como irão existir sentimentos de desespero, insegurança, medo, e outros mais, o importante que deves reter é que tens todo o direito em acolher e observar cada emoção. Não as reprimas e nem as ignores, pois pode te levar a um estado de luto crónico ou um luto adormecido.
E, por mais difícil que seja entender isto no momento, o mais importante é passar pelo processo de modo a que entendas que tens permissão para continuar a viver sem culpa - apesar da pessoa querida já não estar presente.
Talvez te dês conta que poderás ter comportamentos que não te são comuns, mas não desesperes. São apenas respostas físicas a uma dor emocional. Isso é novo para ti, pois estás a aprender a viver sem essa pessoa pela primeira vez.
Não te cobres pelo tempo que parece demorar e nem exijas de outras pessoas as mesmas emoções ou reações que tu - a forma como cada um lida com a perda não é igual e não se deve comparar.
Tu sabes com quem contar
Algo que também será de mais valia para ti é manter contacto - conforme consegues - com as pessoas que fazem parte do teu círculo de amizade; aquelas pessoas que já conheces bem o carácter e que sabes que te darão o apoio que precisas.
O foco é entender que o isolamento não é a resposta adequada para o sofrimento. Isso não quer dizer que tenhas de estar presente para todas as pessoas que conheces - seria um esgotamento!
Com certeza, tens pessoas específicas que serão uma bênção para ti e não um grupo enorme de pessoas que te vão deixar exacerbado(a) com “tanto apoio”.
São essas pessoas que não se vão cansar de te ouvir, muito pelo contrário. Estarão presentes mesmo quando não tiverem nada para dizer. Vão ser o que precisas: um consolo.
O dia-a-dia
A vida vai continuar, assim como as suas demandas normais. Vais ter de voltar ao trabalho ou aos estudos. Contudo, é preciso que tenhas em mente que vais ter de ser intencional nos tempos de descanso para te ajudar a restabelecer e não se tornar um peso a mais.
Outra coisa interessante: novos hobbies. Caso queiras e te interesses, novas actividades poderão ser um bom mecanismo para voltares à activa e descansares a tua mente.
Embora para algumas pessoas seja mais natural voltar à rotina, tu és a única pessoa capaz de saber quando é o momento mais propício para ti. Toma o teu tempo e não uses a rotina como um mecanismo de escape de emoções.
O importante é que saibas o momento certo, sem pressão ou culpa.
Não ignores a tua saúde
O teu físico, a tua mente e o teu espírito precisam de cuidado. Podes pensar que é injusto, mas lembra-te: a pessoa que partiu não iria querer que a tua vida parasse por causa da ruptura inevitável que aconteceu.
Aliás, cuidar de ti - num todo - é um acto de coragem sem explicação!
E eu sei que existe um enorme impacto causado pela perda que podem trazer mudanças no apetite, no sono e no cuidado pessoal (higiene). Mas ainda há vida pela frente e tu precisas continuar a tua rotina a nível físico, mental e espiritual para que possas prevalecer perante tamanha dor.
A saúde mental também é bastante afectada, pois o sofrimento e a angústia emocional podem levar a hábitos nada saudáveis. Pondera bem os pensamentos que rondam a tua mente e não ignores aqueles que necessitam de intervenção - sei que sabes do que estou a falar.
Por isso, procura a ajuda especializada. Lembra-te: não é fraqueza, é coragem!
Tudo no seu tempo e a um ritmo estabelecido podem trazer-te resultados de mais valia para continuares a prezar pela vida que tens.
Deste modo, incentivo-te com muito amor a que possas render o teu coração a Deus.
Ele é, sem sombra de dúvida, o teu maior aliado neste processo. Tanto por saber o que é perder alguém, como por ser o mais apto a lidar com qualquer questão humana.
Não há lágrimas desperdiçadas, choros angustiantes ou sussurros nocturnos que Ele deixe de lado. Não, Ele não é assim!
Será o Teu consolador e o teu melhor amigo - como sempre foi - e vai revelar-se de uma forma como nunca conheceste antes.
Não deixes que o Seu amor te passe ao lado e nem endureças o teu coração, deixa-O consolar-te e permite-te ser amado(a) por Aquele que sabe amar sem medida e em qualquer momento com verdadeiro e puro amor.
Por fim…
Todas as indicações dadas são para pessoas em processo de luto como podem servir também para ajudar quem se encontra enlutado e que tens conhecimento disso.
Dá tempo, espaço e oferece todo o teu apoio à pessoa. Não coloques prazos nem faças ultimatos como forma de conseguir algum tipo de melhora.
A perda de alguém que se ama muito é o maior golpe que o ser humano pode sofrer. Colocar mais peso e pressão em cima da pessoa é ser unicamente cruel.
Sê uma resposta de alívio...
Imprescindível!