Não sei descansar

O mês de Setembro já começou e com ele começa uma nova série onde vou, mais uma vez, ser vulnerável e reflectir sobre uma dificuldade que tenho: não sei descansar.

Descansar, relaxar, abrandar… posso até saber o significado de cada uma dessas palavras, mas não sei como elas se aplicam. Pode-se dizer que é uma fraqueza que tenho.

Creio que a raíz de tudo isto tenha a ver com o tipo de vida a que tive de me acostumar desde muito cedo. Penso que o facto de ter ficado sem a minha mãe muito nova, estar sempre em alerta com possíveis novos ataques por parte do meu avô tenha dificultado o meu processo de saber descansar.

Vivo em constante alerta com receio do que possa acontecer dentro da minha mente. Assim como, vivo como se tudo dependesse de mim, como se eu carregasse o mundo inteiro às costas. Conheces esta sensação?

Tudo bem, tenho a minha vida e as minhas responsabilidades. Que vão desde cuidar de mim, da minha avó, a cuidar da casa ao trabalho e a projectos/sonhos.

Fora ainda, a necessidade que tenho de cultivar alguns hobbies e ser constante para com as minhas amizades.

Quando dou por mim, sinto-me exausta. O tempo passa e eu tenho de fazer com que ele tenha sempre propósito e significado. Tenho de fazer com que valha a pena. Não gosto de ficar com a sensação de que o perdi.

Então, é uma constante subida de emoções que resultam em cansaço extremo. E falo de cansaço físico, mental e espiritual.

Tal como disse, vivo como se tudo dependesse de mim. Por isso, não pensem que é diferente de quando o assunto é o meu relacionamento com Deus.

Sou de tal modo levada pelo termo de responsabilidade que, quando dou por mim, estou cercada de orgulho a pensar que o meu relacionamento com Deus só se dá porque eu faço algo para isso.

ERRADO!

Parece que me esqueço de quem me encontrou, de quem me quis de volta. Foi Ele que não desistiu de mim. Eu estava demasiado fraca e com medo de voltar.

Engraçado, não é? Esta arrogância interna de achar que se Deus actua na minha vida é porque eu faço algo para isso. Que idiotice da minha parte.

Agora, deixem-me explicar-vos de forma mais profunda o porquê do tema acerca do descanso.

No início de 2020, enquanto eu ainda fazia parte de uma ONG - que se encontra em 190 países -, uma das equipas de voluntários que tinha vindo da Austrália e entregaram-me uma carta passados alguns dias após a sua chegada.

Dentro dessa carta, escrita pelos 11 membros da equipa, estavam versículos bíblicos e todos eram acerca de paz, descanso e da graça de Deus ser suficiente.

Lembro-me perfeitamente o que estava a viver naquela época. Tinha a mesma sensação de hoje: um mundo muito pesado às minhas costas e eu sem dar conta de o carregar.

Um mundo composto pelas minhas próprias cobranças, exigências e necessidades de executar tudo em perfeição.

Então, desde esse ano que a voz de Deus me tem deixado inquieta para que eu preste atenção em abrir mão do meu controlo, do meu senso exagerado de responsabilidade, de supervisão e perfeccionismo, para aprender a descansar.

“Mas isso resolves bem com umas férias!”

Lamento informar-vos, mas não é assim que as coisas funcionam. O meu corpo físico descansa, mas a minha mente é a minha maior inimiga.

Pode ajudar? Com certeza, mas esses descansos fora de casa precisam ter um propósito: descansar em Deus e saber que eu posso largar tudo o que faço, de vez em quando, sabendo que é Ele que sustenta todas as coisas.

Descobri, lentamente, que o descanso que eu preciso não se trata de ser apenas físico. Aliás, o meu físico apenas reflecte como está o meu emocional e o meu espiritual.

Eu luto constantemente com a ideia de que sofrimento não é sinal de castigo. Infelizmente, foi um conceito errado com que cresci e que agora para me desenvencilhar-me disto é uma carga de trabalho.

Quando os pensamentos intrusivos aparecem e o meu corpo começa a reagir em pânico, o primeiro pensamento é que Deus se foi e que eu já não tenho mais chance alguma.

A minha natureza humana quer fazer como Adão e Eva e esconder-se. Entendes porque digo que vivo como se o meu relacionamento com Deus dependesse de mim?

Cheguei a prestar atenção a fardos que coloquei a mim mesma de que não estava a ser uma verdadeira filha de Deus. Assim como, eu deveria fazer mais para aquilo ter um fim.

Eu deveria orar mais, eu deveria jejuar mais, eu deveria ler mais a Bíblia. Eu, eu e mais eu!

Que cansativo. Que exaustão só de pensar.

Tão exaustivo que, pela primeira vez, em 2023 é que fui capaz de assumir o óbvio: eu não sei descansar.

Não apenas deitar-me, esticar as pernas no sofá e já está. Mas, descansar no facto de que o sacrifício de Jesus é total e completo. Não sei descansar no verdadeiro e incondicional amor de Deus.

Esta é a minha fraqueza. Esta é a minha prepotência. Pensar que consigo atrair o favor de Deus e fazê-lo com que me aceite por aquilo que faço como forma de chamar a Sua atenção.

É claro que nada se desperdiça e que cresço com tudo o que faço. Mas, eu tenho visto um crescimento mais notório quando me deixo ser transformada da minha forma de viver antiga e passo a adoptar um modo de viver novo: um modo de viver segundo a natureza de Deus em mim.

A minha humanidade quer levar-me a todo o custo a construir coisas apenas com a força do meu braço. E, eu já me apercebi que, tudo o que eu construir e confiar com a força do meu braço, é com isso que eu vou ter de sustentar até ao fim. E é exactamente isso que pode acabar comigo.

Eu só sei ser forte quando admito que sou fraca e que careço de Deus. Que sem Ele a minha vida não se sustenta e nem tem sentido.

Graças a Deus pelos bons amigos que me tem dado ao longo da minha caminhada. Um dia ouvi de uma querida amiga: “Vives como se o tempo fosse acabar. Estás sempre acelerada e não desfrutas do que tens.”

E nessa conversa foi outra das vezes em que admiti: “Eu não sei descansar, eu não sei como é que isso se faz.”

Após estas confissões, vindas do fundo do meu ser, eu comecei a usá-las em oração. As minhas preces, misturadas com lágrimas e soluços, eram para aprender a descansar na paz que excede todo o entendimento. Aprender a descansar de que Deus não perde o controlo da minha vida.

Quando aceitei a condição em que me encontrava, quando pedi perdão pela minha autossuficiência, foi quando vi que o meu coração agora estava pronto para ser transformado. Finalmente, abri a porta do meu coração.

Por isso, por muito mais que eu gostasse de deixar escrito agora, vou partilhar aos poucos em texto. Talvez te identifiques comigo. Talvez seja o que precisas de ler.

Eu ainda estou a aprender. Mas, os passos que já dei vou deixá-los aqui registados. Eu sei que vai valer a pena.