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A Anatomia de Um Luto

  • POR C. S. LEWIS




Encontrei o livro

Não sei especificar o tempo que gastei à procura deste livro em Portugal. Tenho uma coleção de livros da mesma edição, contudo, este em específico não estava incluindo. Encontrá-lo a bom preço? Só no Brasil.


Até que, por motivos de trabalho, tive de ir a Lisboa ao Forúm Evangélico e lá encontrei o livro que tanto procurava! 


Tentei ao máximo conter o meu entusiasmo, já que estavam a decorrer palestras e as pessoas estavam atentas a tudo o que estava a ser dito por parte de Jim Memory, co-director do Lausanne Europa.


Esperei pelo momento mais indicado para o ler, pois não queria fazê-lo à pressa e nem por causa do Entrelinhas - embora tenha acabado por utilizá-lo para a gravação de um episódio com a Gabriele Sauthier (produz conteúdo para o Falei com Amor) - podes ouvir o episódio aqui.


Levei o livro para todo o lado. Sempre atenta para não me esquecer de uma caneta ou um marcador, pois não consigo ler livros sem marcar algo ou sem deixar a minha opinião como se de uma conversa com o autor se tratasse. 


Foi uma leitura simples. Quando digo simples, refiro-me ao facto de C. S. Lewis ter sido tão cru em descrever o seu luto que, pela primeira, vez eu não precisei voltar atrás para entender melhor o que ele queria dizer.


Agora que penso nisso, não sei se entendi bem por ser participante dessa dor ou se (realmente) as palavras me pareciam mais perceptíveis. Será que a dor do outro que já experimentei na pele me faz entender melhor? 


Talvez…


fotografia por Ana Margarida
fotografia por Ana Margarida

Mas vamos falar sobre o livro

É, sem dúvida, um livro escrito de um lugar de muita dor contado por um homem que perdeu o amor da sua vida - amor esse que nunca pensou encontrar. 


A forma carinhosa com que fala de Joy (a sua falecida mulher), demonstra o quanto lhe era especial e um presente enviado por Deus. Tudo isto porque Lewis sendo um académico pouco ou nada acreditava que iria encontrar alguém cujo cérebro fosse mais rápido e perspicaz que o seu. Joy era essa mulher.


É de tal forma cru nos seus pensamentos e sentimentos quanto à dor da perda que não tem medo de escrever tudo o que lhe vai por dentro. Pode soar estranho, ridículo ou até louco, mas a liberdade com que escreve o quanto lhe dói a ausência de Joy é da mesma força com que a amou.


Lewis não se poupa, numa primeira instância, em querer “deixar” Deus de fora da equação. Se é para ser cru nos seus sentimentos de modo a compreendê-los ou a apenas a lidar com os mesmos, notou-se uma resistência em deixar Deus participar.


Não o julguei, apenas o compreendi. Assim como compreendi que, ao passar das páginas que iam sendo lidas, Lewis não conseguiu permanecer com a ideia de que Deus teria de ficar de fora. 


Pelo contrário, como disse a Gabriele durante a gravação do episódio (parafraseando), o autor estava tão firme na sua relação com Deus e tão certo de quem Deus era que se tornou mais próximo para poder ser totalmente honesto sobre tudo o que pensava e que estava dentro da sua alma abatida.


desconhecido
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O luto é parecido com o medo?

No primeiro capítulo, o autor dá-se conta que tanto o luto como o medo têm muito em comum. Pois tal como o medo pode causar em nós sensações que se propagam por todo o corpo, também o luto o faz.


Como disse Gabriele “é mente, é espírito, é o físico/fisiológico(...) um estado de ansiedade e vigilância que se parece muito quando você está com medo também”.


E eu não poderia discordar. 


O medo toma muitas formas, assim como o luto tem as suas vertentes. Enquanto podemos ter medo e sentimo-nos ansiosos pelo futuro, o luto também provoca a ansiedade de não se saber como vai ser possível viver sem a pessoa amada.


A insegurança de não saber como serão as coisas daqui para a frente pelo vazio que se carrega.


desconhecido
desconhecido

Não é o académico que escreve

Grandes obras já tinham sido escritas quando Lewis se sente à vontade para usar todas as palavras que conhecia para explanar a sua dor. Contudo, não é o académico que escreve, mas o viúvo.


É o ser humano que perdeu a sua companheira de vida, que agora teria de aprender a viver sem ela. 


Com receio que a sua querida Joy se tornasse uma mera imaginação. Mas como a Gabi também disse, enquanto éramos vulneráveis não apenas em discutir o livro: “o amor tem uma memória muito forte”.


desconhecido
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Deus como um cirurgião

A dado momento, C. S. Lewis associa Deus à imagem de um cirurgião. 


No momento de dor é natural que o ser humano lute com todas as suas forças para não lidar com a mesma. Mas o autor traz-nos a reflexão de que não faz sentido lutarmos com quem nos pode aliviá-la.


Lewis escreve: “Quanto mais gentil e cuidadoso ele for, mais inexoravelmente continuará cortando. Se ele ceder às suas súplicas, se parar antes que a operação seja concluída, toda a dor até àquele ponto terá sido inútil.” - Anatomia de Um Luto, por C. S. Lewis, página 71.


É o chamado mal necessário!


Isso não significa que Deus conspira contra nós, mas como a vida também engloba estes dissabores, Deus também não vai desperdiçar a oportunidade de se mostrar verdadeiro e presente. Mesmo quando nos sentimos cada vez mais sós e abandonados.


desconhecido
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Por fim…

No último capítulo, na página 90, Lewis escreve: “Louvor é o modo de amor que sempre contém algum elemento de alegria. Louvor na devida ordem: a ele como o presenteador, a ela como o presente.”.


Com o autor eu aprimorei ainda mais a ideia de que já tinha de que é possível e necessário honrar quem já partiu. 


Quando o digo, refiro-me ao facto de que esta leitura foi fulcral para que me sentisse mais livre para fazê-lo.


A minha mãe, que perdi muito cedo, foi a demonstração mais real e palpável que tive de que Deus me queria. A maior prova de que a alegria e o contentamento são duas das melhores armas que existem para se lutar e sobreviver.


Ainda que tenha partido muito cedo e ainda que me faça muita falta, não deixo de ser grata pela mãe que tive. Muito pelo contrário, à medida que os anos passam mais grata eu me torno e mais louvores eu rendo a Ele pela oportunidade que tive de conhecer a Isabel neste lado da eternidade.


No fundo é isso… sou grata porque deste lado da eternidade eu conheci o Senhor, o meu Pai. Assim como deste lado da eternidade eu conheci a Isabel, a minha querida mãe.











Comentários

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Comentários (28)

Adriana
30 de set.

Excelente como sempre!

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Fabiola
05 de ago.

Falar é uma das expressões e experiências mais incríveis que temos. Mas como falastes, precisamos cuidar com os nosso impulsos, esses podem levantar e podem destruir. Obrigada por essa reflexão.

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Convidado:
22 de out. de 2024

Vou dormir com o coração aquecido com esse texto ❤️

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Convidado:
27 de ago. de 2024

“… nos quer levar a nível de segurança tão grande onde vamos nos sentir livres para deixar toda a dor, todos cacos, nas suas mãos“ 🤯

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Convidado:
27 de ago. de 2024

A forma como abraçaste este viagem e te entregaste, e a coragem que demonstraste, é algo que me deixa sempre sem palavras.

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Convidado:
26 de out. de 2023

Gracias por llevarnos hasta allá! Hasta se me apretó la guata.

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amargaridablog
amargaridablog
Administrador
14 de nov. de 2023
Respondendo a

Hehe como nosotros decimos acá: Ora essa! :)

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Convidado:
18 de out. de 2023

Como amei ler seu texto e poder relembrar os detalhes dessa viagem tão intensa e incrível que fizemos. Obrigada ❤️😇

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amargaridablog
amargaridablog
Administrador
14 de nov. de 2023
Respondendo a

Seria bom voltar, né? Pode ser que um dia tenhamos boas notícias e seja possível voltar com tudo em paz :)

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Armando Marcos
Armando Marcos
18 de jul. de 2023

Muito bom seu texto, e compartilho sua dor pois tive um pai semelhante, e essa questão se estar sempre em alerta até hoje vem comigo

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Convidado:
18 de jul. de 2023

Wow! Que corazón enorme Dios te dió.

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amargaridablog
amargaridablog
Administrador
14 de nov. de 2023
Respondendo a

Sin ninguna duda! :) gracias por leer el texto.

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Convidado:
06 de jul. de 2023

Uma menina/mulher super corajosa para escrever sobre algo que te maguou tanto 👏👏

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amargaridablog
amargaridablog
Administrador
13 de jul. de 2023
Respondendo a

Obrigada pelas palavras, que possa encorajar e fortalecer quem está no mesmo barco.

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