Individualidade ou Individualismo?
- amargaridablog
- 1 de jul.
- 7 min de leitura
Todos carregamos uma individualidade que nos torna únicos.
É «certo e sabido» que não existem impressões digitais repetidas. Afinal, ainda que haja o mesmo sangue a correr nas veias ou, em alguns casos, famílias com gémeos idênticos, a verdade é que ninguém é igual.
Contudo, existe uma linha ténue que pode gerar confusão e conduzir-nos para o campo minado do individualismo.
Mas como podemos abraçar os benefícios de conhecer a nossa individualidade e abandonar os perigos do individualismo?
Vou responder a essa pergunta, mas antes de avançar informo que todo o texto foi produzido (por mim) para o programa Mulheres de Esperança - da RTM Portugal - e podes ter acesso ao episódio aqui.
Então vamos lá ao que interessa!
Talvez nunca te apercebeste do facto de que existe uma diferença que distingue estes dois conceitos (embora se pareçam muito).
Contudo, quando falamos de Individualidade falamos de algo bastante positivo. Ou seja, é a característica essencial que permite com que nos expressemos de forma singular e autêntica.
Pode englobar as nossas habilidades pessoais, os nossos gostos, a forma como nos expressamos - quer seja de forma emocional ou intelectual. No fundo, tem tudo a ver com a forma como nos movemos e impactamos o mundo (o nosso ou o das pessoas ao nosso redor).
É a vivência livre de um estilo de vida bem característico que reflete quem somos, de onde viemos, das escolhas que fazemos ao longo da vida, dos nossos valores e princípios.
Agora, tudo isto está muito longe de se parecer em alguma coisa com o Individualismo.
Quando nos referimos a este último conceito, estamos a falar de um extremo que pode ser perigoso para o nosso impacto na sociedade ou aos pequenos grupos onde interagimos regularmente.
Enquanto a Individualidade é necessária porque revela a diversidade, o Individualismo torna-se algo perigoso porque é demonstrado por um modo de estar na vida onde apenas os nossos gostos são válidos, o nosso pensar correcto… onde anda tudo à volta unicamente da defesa dos nossos interesses. O que revela o egoísmo e o orgulho que há no nosso interior - podemos dar conta disso ou não.
A nossa Individualidade é positiva porque coopera para o bem estar de uma sociedade ou de um grupo, e porque levamos em consideração todas as pessoas que neles estão inseridas. Por sua vez, o Individualismo apenas nos faz agir como se o mundo girasse à nossa volta, não levando em consideração o bem comum.
Como podemos discernir o que é a nossa essência e o que é egoísmo?
Vamos partir pelo que já sabemos! Se a Individualidade aponta para o bem comum - enquanto o Individualismo aponta para o próprio ego -, então, começamos por fazer uma auto-análise.
Fazer perguntas a nós próprios ajuda bastante. Tais como: “Penso ou decido desta forma porque estou a doar de mim ao outro, ou porque quero tirar proveito desta situação?; “Estou mesmo interessado(a) em ajudar esta pessoa ou quero estar livre para mais tarde pedir favores em troca?”.
Também acrescentaria perguntas como: “Estou a dar a minha opinião livremente e baseada nos meus valores e princípios, ou estarei a tentar persuadir e manipular a situação para que esteja a meu favor?”; “Porque fico chateado(a) quando as pessoas não pensam da mesma forma que eu?”.
É imprescindível questionarmo-nos! Atrevo-me a dizer que é essencial.
Recentemente, num vídeo de reels que vi no instagram, uma filha perguntou ao pai porque razão os casamentos (antigamente) duravam 50/60 anos - até um dos parceiros falecer - e, agora, parece que nenhum relacionamento dura.
Ao que o pai respondeu que, hoje em dia, as pessoas estão cada vez mais individualistas e querem encher mais o seu ego.
E ainda acrescenta que a maneira de se estar na vida é saber partilhar aquilo que se é, porque ninguém nasce para si (nascemos para os outros, tal como nascem as árvores que dão frutos para nos alimentar).
Este pai acaba por finalizar a sua resposta afirmando que “quem vive com as diferenças entra em harmonia”.
Ora, isto são palavras sábias!
Acho notável que a resposta deste pai não vai contra a individualidade, mas sim contra o individualismo. Ou seja, as diferenças merecem ser respeitadas porque se trata da autenticidade de cada pessoa.
Sabendo lidar com essas diferenças - e reforço a ideia de que falamos de diferenças que são possíveis de ser toleradas, não de diferenças que coloquem a integridade física ou psicológica de alguém em risco -, estaremos aptos para deixar de lado o individualismo, admirar a individualidade do outro e ainda viver em harmonia.
A cereja no topo do bolo é que não se aplica apenas a casamentos, mas a qualquer relacionamento - tenha esse relacionamento o grau de profundidade que tiver.
Creio até que, quem se auto-analisa e procura aprender a lidar com as diferenças do outro (respeitando a sua individualidade), demonstra um grau maior de maturidade e, melhor do que isso, de amor.
Até porque, a meu ver, não existe nada mais ousado, corajoso e autêntico que o amor.
Sinto que agora é o momento de irmos um pouco mais a fundo no tema.
Não desvalorizando tudo o que já mencionei - que é bastante útil e prático para se aplicar -, sinto é preciso perceber qual é o olhar de Deus diante desta temática.
Afinal, sendo Ele o Criador de todas as coisas, a Sua perspectiva conta. E, como já sabes, acredito que tudo o que lemos no Livro Sagrado é inspirado por Ele - mesmo que tenha sido escrito por pessoas tão diferentes, com a sua própria história e autenticidade de escrita.
Por isso, permite-me começar por te apresentar a forma de combater o egoísmo que existe no individualismo, reflectindo sobre o que está escrito em Filipenses 2:3-5: “Não sejam egoístas, nem tentem impressionar ninguém. Sejam humildes e considerem os outros mais importantes que vocês. Não procurem apenas os vossos interesses, mas preocupem-se com os interesses alheios.”
Este excerto do apóstolo Paulo é o mais evidente quanto à promoção do que é ser humilde, andar em unidade e ser autêntico enquanto se é altruísta.
É fascinante perceber que ele dá o conselho para não sermos egoístas, mas também diz para não tentarmos impressionar ninguém. Ou seja, nada melhor do que sermos nós mesmos!
Depois continua a aconselhar para que haja humildade e para que os outros fossem considerados mais importantes.
De facto, a individualidade, que nos torna pessoas únicas, traz-nos o senso de que não somos os únicos neste mundo e que não é apenas o nosso umbigo que importa. Tanto que continua o seu conselho para que consideremos não só as nossas questões, como as das demais pessoas.
A individualidade faz-nos ser como Jesus “(...) que não veio para ser servido, mas para servir.” (Mateus 20:28).
Serviu a humanidade tão bem que temos na Bíblia relatos do quanto se preocupou com a doença das pessoas, curando-as; a fome que tinham, multiplicando pães e peixes e alimentando-as; chorou com os que estavam enlutados… estamos a falar do Filho de Deus!
O mesmo que se preocupou mais em nos devolver a amizade com o Pai e em aliviar as cargas pesadas que a humanidade carrega, e mais! Deixou tudo o que tinha no céu (volto a repetir: estamos a falar do filho de Deus), porque viu que tu e eu precisamos de algo mais que preencha as insatisfações dos nossos corações.
Consegues entender como o próprio Filho de Deus é o exemplo de que precisamos de uma maior compreensão do que é saber receber, abraçar, entender e amar o outro, sem nos anularmos?
Sabes… Deus não errou na personalidade que te deu, nas aptidões que te deu, nos dons e nos talentos, muito menos no contexto que nasceste! Tudo isso foi essencial para construir quem és hoje. Mas tudo isso pode perder o seu valor e propósito se não for usado também em benefício do outro.
Se nem Deus se poupou a dar-se a conhecer em carne e osso à humanidade, quem somos nós para nos pouparmos de darmos o nosso melhor a quem está ao nosso lado e que pode crescer muito com o que temos para lhe oferecer?
Por vezes, tudo o que o outro precisa é de compreensão e aceitação. Bem, também é preciso que o outro nos aceite, isso é uma realidade - agora, toma em consideração que o facto de o outro não ter aceitar não é sinónimo de que não tens valor!
Nos dias em que vivemos faz tanta falta um lugar seguro.
Eu e tu podemos ser esses lugares seguros, só precisamos estar dispostos a aprender de Jesus em como sê-lo e fazê-lo. Ele não desperdiçou o Seu tempo aqui no mundo para o Seu belo prazer, Ele tinha uma missão que executou com perfeição!
Não te trago o peso de seres perfeito(a), pois existe uma autenticidade essencial nas nossas imperfeições.
Contudo, é necessário olharmos ao nosso redor e perceber de que modo estamos a impactar positivamente quem está ao nosso lado. Pois, com toda a certeza, existe algo que podemos fazer pelo outro, à nossa maneira, tal e qual como somos.
Também é importante ressaltar que precisamos ter a noção de que não somos os salvadores de ninguém, esse lugar é apenas de Jesus - só Ele salva o ser humano por completo.
Mas isso não implica que não possamos ser intencionais em levar em conta o que o outro está a passar e ajudar de alguma forma - desde que este o queira.
Ainda que as nossas rotinas possam ser caóticas, há sempre uma forma de podermos estar disponíveis para o outro. E com isto não estou a falar de números, mas de fazer o possível com quem dá e quem quer.
Jesus, mais uma vez, é um exemplo disso: da mesma forma que se afastava para ter o seu tempo a sós com Deus, também dedicava tempo a atender às necessidades das pessoas, a ensinar e a conviver. Ele não deixava de ter os seus momentos, mas também não se privava das demais pessoas.
Consegues identificar a leveza que é poder ser autêntico(a), apreciar o que se é e o que se gosta e, ao mesmo tempo, admirar a individualidade do outro? O quão benéfico e proveitoso isso é?
Ao contrário de ser individualista - onde as portas que se abrem são de egoísmo, ressentimento e descontentamento - quando fazemos as pazes connosco e não nos impomos ao outro, isso traz a consciência de como a vida se pode tornar mais proveitosa e leve.
Vou dormir com o coração aquecido com esse texto ❤️
“… nos quer levar a nível de segurança tão grande onde vamos nos sentir livres para deixar toda a dor, todos cacos, nas suas mãos“ 🤯
A forma como abraçaste este viagem e te entregaste, e a coragem que demonstraste, é algo que me deixa sempre sem palavras.
Gracias por llevarnos hasta allá! Hasta se me apretó la guata.
Como amei ler seu texto e poder relembrar os detalhes dessa viagem tão intensa e incrível que fizemos. Obrigada ❤️😇
Muito bom seu texto, e compartilho sua dor pois tive um pai semelhante, e essa questão se estar sempre em alerta até hoje vem comigo
Wow! Que corazón enorme Dios te dió.
Uma menina/mulher super corajosa para escrever sobre algo que te maguou tanto 👏👏
Que post sensacional sobre sermos o sal da terra! Maravilhoso ❤
O medo é uma realidade vencida pela coragem. És corajosa e tens mostrado prendas dadas por quem te ama a tal maneira.
És Ana, conhecida e amada desde a fundação do mundo.