Não fujo à regra
- amargaridablog
- 29 de set.
- 4 min de leitura
DESABAFOS INTERMITENTES
Quando era mais nova, ao imaginar a minha fase adulta, pensava em tanta coisa que, agora que me deparo com o que vivo no presente, em quase nada se assemelha.
Não tenho nem metade das coisas que sonhava e que acreditei que teria bem resolvidas. Penso que aceitar a realidade sempre foi uma tarefa difícil.
Por isso, dissociar era a melhor ferramenta que tinha. Tanto para avançar na vida enquanto à minha volta eu só tinha caos, quanto na idade adulta para continuar um dia após o outro.

Em conversas com a minha avó, costumo confessar-lhe que talvez tenha acordado tarde para a vida – quando digo isto refiro-me ao facto de que sempre fui muito ingénua.
Mas depressa nos damos conta de que andei sempre bastante desperta… mas para sobreviver a marcas do passado. Nesse âmbito, o cérebro foi meu amigo em deixar esquecido cenários que não queria voltar a reviver.
Actualmente tomo outra responsabilidade. Não murmuro pelo facto de não estar onde já gostaria, nem pelo facto de que (sim) haverá algo mais difícil para uns do que para outros – não o digo como vitimização, mas de forma a aceitar de que isto se trata a vida, sem querer trocar a minha com a de qualquer outra pessoa.
Porém, tenho vindo a notar um padrão recorrente: a necessidade de aprovação alheia. Este pequeno padrão (que eu quero muito que perca força) é o pontapé perfeito para que eu partilhe mais do que devo e a quem não devo.
Nem entro no mérito de que pode existir quem torça contra – isso faz mal a quem tem essa postura de coração, não a mim –, mas porque gera em mim mais frustração cada vez que me perguntam algo a respeito e eu não tenho boas notícias a dar.
A minha sensação de fracasso é iminente e, por mais absurdo que pareça, apodera-se de mim um peso de que estou a desiludir a pessoa.
Ou seja, estou a dar-lhe motivos para que me ache uma fracassada sem futuro e, assim, tome a sua decisão de me deixar porque, afinal de contas, quem quer ter amizade de alguém sem futuro?

Já começam a ter uma ideia de como eu sou a minha própria inimiga, certo? E por isso eu não tenho medo em assumir que eu não fujo à regra!
Eu também tenho lutas internas e necessidades a serem supridas que me parecem um esforço e caso mais alguém saiba disso e vê que não alcanço… eu frustro-me ainda mais.
Mas como já fui advertida inúmeras vezes pela minha amiga Jochy: “tendências não são sentenças”. Tomando consciência de como as minhas tendências negativas despertam, eu tenho como assumir responsabilidade e agir ao contrário do que se é esperado pelas mesmas.
Agora, faço isso sozinha? Jamais!
Se me permites, neste momento serei o mais típico de uma crente: louvado seja Deus, meu Senhor, que me desperta para que eu me posicione conforme o que Ele diz a meu respeito e me recorde do quanto Cristo mudou a vida e me livrou da pior sentença possível ao dar-me uma vida em abundância quando esvaziou a Sua na cruz.
Sim, há dias que acordo a sentir-me o pior da sociedade, um peso na terra e uma pessoa sem futuro. Já desperto com inúmeras cobranças e culpo-me por não ser como o restante da minha família porque decidi ser o que Deus tinha para mim.
Choro muitas vezes sozinha a pensar se não estarei no caminho equivocado e se vale a pena tantos olhares e comentários duros.
Contudo, é aqui que Deus se torna mais presente. Assegurando-me que eu posso chorar o quanto eu quiser, frustrar-me o tanto que conseguir e ainda culpar-me à vontade… que nada disso vai alterar a aprovação e a aceitação que Ele já me deu sem que eu precisasse provar o que quer que fosse.
O que me resta é fazer as pazes com o facto de que serei sempre a amiga crente, a que faz escolhas diferentes e que muitas vezes não é sempre a pensar apenas no seu bem-estar; serei sempre a sobrinha, a prima que faz apenas aquilo que lhe apetece porque não me prendo a justificar o que vivo com Deus por saber que jamais entenderiam.

O meu trabalho numa rádio cristã não é visto como bom futuro, dar aulas de religião e moral não me faz professora, escrever não me vai garantir pão na mesa, pregar ainda fará com que pessoas se voltem contra mim por causa da mensagem que transmito. E por aí vai…
Eu não fujo à regra de querer ficar bem com todos, de querer que me aprovem. Mas está mais que na hora de entender que, continuamente, eu preciso aceitar e encarar a realidade que me foi dada.
Afinal de contas, no grande dia, serei só eu e Ele. E eu só quero ouvir, um dia, que Ele me conhece e que agora posso descansar.
Excelente como sempre!
Falar é uma das expressões e experiências mais incríveis que temos. Mas como falastes, precisamos cuidar com os nosso impulsos, esses podem levantar e podem destruir. Obrigada por essa reflexão.
Vou dormir com o coração aquecido com esse texto ❤️
“… nos quer levar a nível de segurança tão grande onde vamos nos sentir livres para deixar toda a dor, todos cacos, nas suas mãos“ 🤯
A forma como abraçaste este viagem e te entregaste, e a coragem que demonstraste, é algo que me deixa sempre sem palavras.
Gracias por llevarnos hasta allá! Hasta se me apretó la guata.
Como amei ler seu texto e poder relembrar os detalhes dessa viagem tão intensa e incrível que fizemos. Obrigada ❤️😇
Muito bom seu texto, e compartilho sua dor pois tive um pai semelhante, e essa questão se estar sempre em alerta até hoje vem comigo
Wow! Que corazón enorme Dios te dió.
Uma menina/mulher super corajosa para escrever sobre algo que te maguou tanto 👏👏