Falsos Deuses

As promessas vazias de dinheiro, sexo e poder, e a única esperança que importa, por Timothy Keller

Sabes que podes sempre contar com recomendações de leitura neste blog. Assim como sabes que, tudo o que indico, foi por já ter despertado em mim alguma mudança.

A mudança não acontece sem confronto. E é isso mesmo que promete o livro “Deuses Falsos” de Timothy Keller. 

Por isso, deixa-me falar um bocadinho sobre a minha experiência de leitura.

Conheces aquele tipo de leitura que, depois de acabada, te deixa com uma enorme sensação de náusea misturada com uma leve pontada de vontade de chorar?

Se não conheces, então podes tranquilizar-te que sou apenas eu na minha hipersensibilidade - o que não há nada de errado com isso, deixando bem claro.

Mas esta é a melhor forma de te descrever de como me senti. Até porque eu nunca tinha lido um único livro escrito por Tim Keller. Embora consumisse muito dos seus ensinamentos, nem um único livro havia na minha estante.

Até que, em Novembro do ano passado, fiquei decidida que leria o livro que todos diziam “ter virado a vida de pernas p’ro ar”. 

Tenho um certo costume em usar alguns livros - mais especificamente os de carácter cristão - como um complemento no meu momento de devocional. Aquele tempo no meu dia em que é só para me concentrar em Deus e no amadurecimento da minha fé Nele.

Pelo que já tinha lido e ouvido de outras pessoas, depressa entendi que se tratava de um livro que iria tratar o coração de forma profunda. Eu só não estava à espera de uma “pancada” tão grande…

Dando características rápidas do livro, posso dizer-te que conta com sete capítulos e 173 páginas. Foi dedicado aos filhos do teólogo que ele mesmo garantiu serem “capazes de detectar a falsidade”.

Curioso não é? Estamos num tempo em que existe uma competição pela autenticidade e uma vontade exacerbada de querer ser genuíno em tudo o que se diz e se faz, que mais depressa nos tornamos seres idólatras e idênticos a algo ou alguém.

Eu não conheço um único idólatra que não seja falso. Afinal, não está muito longe da falsidade daquilo a que se dedica e é devoto - mesmo sem se dar conta disso.

O que não falta são desejos orgulhosos e enganosos, no meu e no teu coração, ao ponto de nos tornar vazios e ansiosos por promessas vagas.

Por que razão te falo em coração? Porque Tim Keller, para além de explicar a importância de falarmos sobre a idolatria dos nossos dias, também mostra como João Calvino tinha toda a razão ao dizer que “o coração humano é uma fábrica de ídolos”.

Deste modo, antes de nos dar exemplos de idolatrias escondidas, o autor conta-nos na introdução como os ídolos são um problema do nosso coração - já que Deus criou o ser humano para adorar.

Aqui está a chave: somos seres que fomos criados para adorar, para cultuar. Está em nós a necessidade disso. Contudo, após a barafunda que o pecado causou, a nossa noção de perfeita adoração foi direccionada ao que aparenta ser bom e verdadeiro, mas é mau e falso.

Por isso, Keller deixa explícito que nós temos a capacidade de tornar qualquer coisa ou pessoa num falso deus. Fazer deuses, para nós, é muito fácil. Aliás, difícil é não criar um de tempos em tempos. 

Mas como se identificam os falsos deuses?

É mais simples do que poderíamos pensar. Tudo o que requer o nosso tempo, dedicação e devoção, tornou-se o nosso deus. Tudo o que cativa a nossa imaginação e os nossos sentimentos.

Além disso, cometemos o erro de pensar que não se trata de um ídolo porque, a olhos vistos, são coisas boas e não más. Afinal de contas, não se trata de uma imagem de budha, de Maria ou outro deus qualquer feito de pedra.

Mas, segundo Tim Keller, um ídolo é tudo aquilo que torna “as nossas emoções mais inflexíveis”. Ou seja, não queremos abrir daquilo e Deus nos livre de ficarmos sem tal coisa.

E que exemplos o autor dá?

Keller usa o exemplo de Jacó que desejava Raquel mais do que tudo nesta vida. Tanto que trabalhou sete anos por ela e, mesmo tendo sido enganado pelo seu tio na sua boda de casamento - ao que o tio lhe deu a filha mais velha e não Raquel - voltou a trabalhar mais sete anos por ela.

Ao todo foram 14 anos a trabalhar para ter a mulher que sempre desejara. Tal era o seu desejo de obter aquela mulher que a própria Bíblia diz que aqueles anos eram comparados a dias, nada lhe custou. Ele fixou-se em Raquel e não via mais nada.

Romântico, não é? Só que não! 

Dentro da comunidade cristã - ou até fora dela - parece que uma pessoa só é completa e levada a sério quando, finalmente, tem a sua parelha. A nós, solteiros, não nos é dado o acompanhamento para amadurecermos o nosso carácter em Deus. 

Somos muito empurrados para encontrar a pessoa certa, quando não nos dão base para nos tornarmos a pessoa certa. Fora que, criam em nós a ansiedade de acreditar que a finalidade da nossa vida está num casamento e não em Deus.

Dei por mim a tirar pesos dos meus ombros e a ser redirecionada na minha dedicação, no meu tempo e na minha devoção.

Abandonei idealizações e agarrei-me à realidade que Deus me deu e que já me prometeu. De resto, o meu coração pode até desejar muita coisa. Mas agora estarei atenta até que ponto não será um falso deus.

Timothy ainda dá exemplos profundos usando Abraão, demonstrando que filhos também se podem tornar pequenos deuses. Ideologias políticas, a cultura, dinheiro, sexo, poder, etc…

Keller oferece bons e exactos exemplos de como todas essas coisas são passageiras. Não são más, mas são passageiras. Tendo-as ou não neste mundo, sonhando com elas ou não, o que não pode ser sustentado no nosso coração é uma obediência cega a estas coisas.

Já agora, aproveito para esclarecer que as exemplificações dadas pelo autor não se limitam a personagens bíblicas. Celebridades, empresários e sociólogos também entram para completar todo o raciocínio do teólogo.

Ao leres este livro, vais ter a certeza de que o teu coração vai estar exposto e que nenhum esforço que faças para escondê-lo vai ter sucesso. Ficarás com a sensação de que te apanharam em flagrante delito e que não tens como escapar.

Contudo, a parte boa é que será pela Pessoa certa. Aquele que irá ajudar-te a redirecionar a tua atenção, dedicação e devoção. 

Por isso, se lutas com algo que sabes que está a roubar o teu coração de Deus… mergulha na leitura deste livro. 

Não tenhas medo do confronto. Pois a mudança está à tua espera.