Fantasia
- amargaridablog
- 13 de jun. de 2023
- 3 min de leitura
Atualizado: 20 de jun. de 2023
A montanha-russa do controlo e do medo
O facto de não ter crescido num ambiente familiar que me proporcionasse uma infância saudável, tornou a minha idade adulta um grande desafio - creio que há mais pessoas como eu.
A minha mãe fez tudo o que estava ao seu alcance. E, graças a Deus que nos deu Cristo, porque a história da minha família mudou muito quando o evangelho foi apresentado à minha avó. Tudo levou uma grande volta, ainda que gradual.
Contudo, há um assunto que luto para não falar sobre ele. Não quer dizer que não o mencione, mas evito-o.

Evitava. O facto de o escrever aqui já prova que não tenho nada a perder em falar sobre um dos meus grandes paralisadores: a fantasia.
Dentro dela todos os meus relacionamentos são perfeitos e super adequados ao que eu considero saudável. Não existem riscos porque não fogem do meu controlo. O guião está bem construído, pois é a história que crio para mim mesma.
O meu grande problema é que me esqueço que a vida é um verdadeiro passo a passo. Os passos dados parecem-se aos de um bebé que está a aprender a andar e não aos de um atleta de alta competição.
Pois a vida envolve riscos. Entregar o poder aos outros para que despedacem o meu coração - mesmo quando não é essa a intenção da pessoa - enche-me de medo ao ponto de me fazer acreditar que é melhor nem avançar.
O medo de ouvir “não”, ou de não ter qualquer tipo de reciprocidade, é tão grande que guardo para mim tudo o que sinto, penso e o que gostaria de ter coragem para falar.
Esse medo agarra-se a um velho companheiro de viagem: o controlo.
Leva-me a não dizer nada, a fechar-me na minha caixa de pensamentos e fantasias. Aí eu controlo toda a história. E adivinhem só? Acaba sempre num final feliz.
Tudo isto desencadeado pelo que não tive na infância, ou, pelo que ainda não tenho e já tenho medo de perder.
Digo que este assunto começa a perder as suas forças porque tenho-o enfrentado. Tenho lutado como nunca.

Deus é responsável por mim e por me garantir o que preciso aprender. E eu sou responsável por responder a tudo o que me dá. Tal como aprendi esta semana: “a tua responsabilidade é responderes de forma adequada à convicção de mudança que Ele te dá”.
Confesso que não é fácil. Não queria ter de fazer este esforço. E digo esforço porque estou a sair de mais uma área confortável que criei como carapaça de protecção.
Engraçado, não é? Estamos sempre com a tendência em criar protecções que, na verdade, expõem os nossos traumas.
Agora, como enfrentar isto?
Bom, tal como me aconselharam, é sempre bom relembrar que somos amados por Deus e pelas pessoas que estão connosco (família e amigos). E é sempre importante enfrentar a situação de frente e ter consciência que não temos nada a perder.
Há perguntas que precisam ser feitas e há que ter segurança em fazê-las. Isso não significa que as pernas não tremam, mas é a certeza que aquilo é a coisa certa a ser feita.
O facto de irmos atrás de respostas não nos coloca como rejeitados caso haja um “não”. O resultado - e nisso sim temos de focar - é o grande escape da ilusão e da auto-defraudação.
Aquilo que nos corrói morre logo quando temos a coragem de enfrentar. E parece tão simples, não é? Pelo menos, vamos manter isto nas nossas mentes: como pode alguém nos rejeitar, sendo que já somos aceitos por Deus? Há que relembrar que as outras pessoas têm uma escolha e isso nada tem a ver com rejeição, mas sim com liberdade.

Da mesma forma que queremos ser livres para escolher alguém, precisamos entender que o outro também o é. E que a sua liberdade não deve ficar condicionada à nossa.
Já que sou alguém que não gosta de perder tempo, então tenho de agir a tempo de ter as respostas que preciso para seguir em frente.
É curioso porque, quando pensamos em respostas, rapidamente, pensamos em “sim” e “não”. Contudo, é bom relembrar que o silêncio também é resposta - e seria bom não perdemos tempo na suposição do que aquela história poderia ser e aceitar de uma vez que ela nem começou.
Por isso, se há coisa que podemos ter certeza é que não temos de nos envergonhar dos nossos sentimentos. Não os escolhemos, mas podemos trabalhá-los. Eles vão e vêm.
Além disso, podemos sempre ter a certeza que, quanto mais somos responsáveis em responder adequadamente ao crescimento que Deus nos proporciona ao longo da vida, mais certos seremos em fazer boas escolhas.
E há reciprocidade nessas boas escolhas. Pois quando nos virmos como realmente somos e não tivermos vergonha disso, haverá sempre alguém que nos amará na mesma profundidade e verdade.
Vou dormir com o coração aquecido com esse texto ❤️
“… nos quer levar a nível de segurança tão grande onde vamos nos sentir livres para deixar toda a dor, todos cacos, nas suas mãos“ 🤯
A forma como abraçaste este viagem e te entregaste, e a coragem que demonstraste, é algo que me deixa sempre sem palavras.
Gracias por llevarnos hasta allá! Hasta se me apretó la guata.
Como amei ler seu texto e poder relembrar os detalhes dessa viagem tão intensa e incrível que fizemos. Obrigada ❤️😇
Muito bom seu texto, e compartilho sua dor pois tive um pai semelhante, e essa questão se estar sempre em alerta até hoje vem comigo
Wow! Que corazón enorme Dios te dió.
Uma menina/mulher super corajosa para escrever sobre algo que te maguou tanto 👏👏
Que post sensacional sobre sermos o sal da terra! Maravilhoso ❤
O medo é uma realidade vencida pela coragem. És corajosa e tens mostrado prendas dadas por quem te ama a tal maneira.
És Ana, conhecida e amada desde a fundação do mundo.