O verdadeiro consolo
- amargaridablog
- 27 de ago. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 8 de out. de 2024
Em toda a minha caminhada com Deus existe uma tentação que, volta e meia, se sobressai. Não existia muita coragem para falar sobre ela, mas hoje vou expô-la – afinal de contas, a confissão também traz cura.
Por isso, aqui vai: sou tentada, por orgulho e incredulidade, a levar a vida com o pensamento de que existem áreas e experiências da vida que Deus não se intromete. Como se fosse um nível de um jogo que tenho, pelo meu próprio esforço, de descobrir a táctica certa de o ultrapassar.
Vivi muito a pensar assim, especialmente, em relação ao sofrimento. Vou afunilar um pouco mais o assunto que quero tratar: o luto.
Pensava que, pelo facto de ser uma experiência da qual ninguém escapa, eu não tinha outro remédio se não seguir com a minha vida, engolir os meus questionamentos e meter na cabeça que daquele momento em diante a pessoa já não faria mais parte do meu dia-a-dia.
Para ti, que me acompanhas há algum tempo, já não é novidade o facto de que só aos 25 anos de idade é que pude fazer o luto da minha mãe da forma correcta.
Não que haja uma fórmula ou um tempo, mas no sentido em que abracei o processo de chorar o que não chorei em anos anteriores e caminhar em direção de me libertar da dor adormecida que nem me permitia desfrutar da verdadeira saudade – aquela que não provoca dor, mas promove honra e esperança.
Contudo, eu deixei de lado a noção de que o luto tem as suas fases até que a cura ocorra. E eu deixei de lado Deus – que está presente em todas elas.
Desde ao choque de receber a notícia devastadora; de viver os estágios de pura revolta e raiva, contra tudo e todos; de pensar as coisas que poderiam ter sido ditas e não foram, o que poderia ter evitado ou não; à dor e ao choro incontrolável que não me permitia deixar ser consolada por ninguém; até, por fim, à aceitação de que aquela é a realidade e que pode ser vivida com leveza e verdadeira saudade.
Descrevi, pelo menos, cinco dos grandes estágios vivenciados durante o processo de luto. Algumas pessoas podem passar por todos, outras podem vivenciar apenas alguns. Tudo depende de pessoa para pessoa. Tal como já afirmei, o processo de luto não é um protocolo a ser seguido.
A dor da perda segue o seu rumo dependendo do nível de intimidade, amor e proximidade que havia com a pessoa. Pois conheço casos em que os traumas da pessoa enlutada com a que faleceu eram tão grandes em rejeição que o único estágio vivenciado era a raiva.
Porém, por mais que o contexto seja, ou não, o mais favorável, a verdade é que Deus se faz presente em cada fase. Ao criar-nos com emoções, Ele sabe aquelas que precisam vir à tona e o porquê de virem à tona. Ele é paciente e é o único apto para oferecer o verdadeiro consolo.
Agora, a questão é: estamos nós a deixar Deus nos consolar?
As dores desta vida podem nos cercar e nos cegar de tal forma – ainda que sejam muito válidas – que não nos permitem nem lembrar da certeza de que o Senhor sabe o que é sofrer. Esquecemo-nos que Deus não nos deixa sozinhos com os nossos cacos, mas está presente ajudando-nos a apanhar cada um deles.
Não só faz isso, como nos quer levar a nível de segurança tão grande onde vamos nos sentir livres para deixar toda a dor, todos cacos, nas suas mãos para que Ele faça tudo de novo. Sem nos impor a ideia de colocar tudo debaixo do tapete, mas ensinando-nos que, a partir daquele momento, aquilo fará parte da nossa história e parte de quem nos estamos a tornar.
Deus não só é apto para lidar com os nossos questionamentos, como é o mais entendido em perceber porque o queremos deixar de fora numa fase tão dolorosa.
Mas, Ele não impõe a sua presença. De forma suave e gentil – como só Ele sabe ser – mostra-nos que não nos abandona.
Respeita silêncios, colhe as nossas lágrimas, não se deixa intimidar pela nossa raiva, ampara-nos nos seus braços e zela pela nossa mente para estar tranquila… melhor que ninguém, Ele nos conduz no processo de luto ao ponto em que nem nos apercebemos que fomos acompanhados no vale da sombra da morte e trazidos a pastos verdejantes.
Por isso, diante de tamanho consolo e amor, o luto torna-se mais leve de suportar quando abandonamos a falsa ideia de que precisamos sofrer sozinhos.
Somente Deus entende essa dor e o mais lindo é que muitas das vezes a linguagem da pessoa enlutada é raiva e dor contudo Deus não se chateia, pelo contrário abraça e faz o que nada e ninguém consegue fazer. Texto maravilhoso, e capítulo de um livro que vai alcançar muitas pessoas desoladas que sentem abandonadas em suas dores.
Olá minha linda.
Que alegria e privilégio poder privar contigo.
E saber boa parte da tua história, luta, perseverança, fé, coragem, resiliência e capacidade de enfrentar a cada batalha.
Sabendo, que ao colocares tudo nas mãos do Papai Ele te fortalece cada dia mais e mais.